Eu não escolhi a Enfermagem. Ela me escolheu. Quando pequena lembro-me de brincar de duas coisas, professora ou enfermeira, mas quando eu ouvia adultos falarem sobre doenças, lembro que ficava atenta e já queria aprender sobre aqueles assuntos. Quando ia a algum lugar, que eu via aquelas pessoas de branco eu me encantava sem entender bem pelo o que.
O tempo passou e naturalmente eu já falava em cuidar das pessoas, com 17 anos finalizei o segundo grau e entrei na faculdade de Enfermagem.
Não foi fácil, pois havia muito preconceito, afinal, eu era uma das pessoas mais novas da Universidade, surfista, ia para aula de havaiana e logo no primeiro semestre já era bolsista de um dos maiores hospitais de Florianópolis. Aliás, quantas lembranças e gratidão por tantas pessoas que lá conheci e me ensinaram muito sobre o que eu queria ser (e também algumas que me ensinaram o que eu não queria ser).
Quatro anos depois, me formei, então com 21 anos, e já tinha passado por quase todos os setores do hospital, cuidado de pessoas idosas em casa, trabalhado em curso de resgate aquático e também concluído o curso de Bombeiros comunitários, na primeira turma, onde entraram mulheres para dentro do quartel, lugar que até então, só havia homens trabalhando.
Com essa pequena mochila de experiências, fui contratada para atuar como Enfermeira na Amazônia. Estado do Amapá, onde permaneci por três anos, e só de lembrar, me bate uma saudade imensa das pessoas tão amorosas que me acolheram, trabalharam junto comigo na saúde indígena, e também na implantação do Programa de Saúde da família em regiões que nunca tinham visto equipe de saúde na vida.
Após esse período, voltei então para Florianópolis, e lembra das minhas brincadeiras de infância? Pois é, fui professora de um curso técnico em enfermagem, em aulas teóricas e estágios práticos, voltei a atuar no ambiente hospitalar, como no início da minha jornada. Fui promovida a coordenadora deste curso. E dando aula dentro do hospital, fui então convidada a trabalhar como Enfermeira deste pequeno, mas com uma das melhores equipes e estrutura que já trabalhei, hospital de Tijucas, município próximo a Florianópolis.
Pra quem conhece Floripa, da minha casa, que era na Barra da lagoa, chegar até o hospital era uma viagem. Todos os dias eu fazia 140km para ir e voltar do trabalho, de moto, com sol ou chuva, mas muito feliz e realizada.
Até que em um dia, sendo enfermeira responsável da Emergência noturna, percebi que muitos idosos iam até o pequeno hospital para serem atendidos, com questões ambulatoriais, que poderiam ser resolvidas no posto de saúde. Enquanto alguns profissionais reclamavam daquela demanda, ali percebi que eles precisavam de atenção, de serem ouvidos e acarinhados com poucos cuidados que podíamos proporcionar.
Lembro de um dia falar, que gostaria que existisse um lugar que realmente valorizasse a pessoa idosa, em sua essência e sabedoria de vida como eu havia visto nas sociedades indígenas.
Foi ai que pensei, porque não? Iniciei então um profundo estudo sobre a gerontologia, espaços de atendimento, e percebi que era possível mudar tal realidade sobre preconceito do idadismo, e percebi a necessidade de um espaço diferenciado para atendimento destas pessoas.
Resumidamente assim, nasceu o Bella Vita, mas como tudo não foi fácil, assim que iniciei esse espaço, recebi uma carta, que eu tinha passado em um concurso público do Estado de Santa Catarina e poderia trabalhar em Florianópolis. Eu estava entre a cruz e a espada: entre a estabilidade do serviço público, de atuar em hospitais, de retornar para a vida profissional de onde iniciei e o medo de montar uma empresa, mas com uma vontade gigante de atender e fazer a diferença na vida das pessoas idosas e seus familiares.
Orei muito a Deus, pedindo que me ajudasse a fazer essa difícil escolha. Até que recebi uma notícia de que eu estava escalada para trabalhar no hospital infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, na UTI pediátrica. Foi ali que percebi que Deus havia me dado uma resposta. Não tinha perfil para atuar em tal setor, não havia capacidade técnica ou emocional em mim, para assumir a UTI como Chefe do setor.
Hoje penso, quanto perrengue, dificuldades, saudades eu passei nessas fases profissionais, mas tudo fez e faz tanto sentido.
Sou grata a cada pessoa que conheci e que me ajudaram a me tornar quem sou hoje. Sou muito feliz com cada escolha realizada. E tenho certeza que esse caminho ainda não terminou.
Gratidão a cada família atendida, que entregam em nossas mãos a vida daqueles amores de suas vidas, na confiança de serem muito bem cuidados.
E para os colegas, deixo uma reflexão: somos Profissionais, mas antes de qualquer coisa somos humanos, então cada dia que a gente se levanta e vai ao trabalho, devemos ser o melhor que pudermos naquele dia, pois as vezes, podemos mudar o rumo das histórias, levar o afeto e a cura, mas sempre podemos levar AMOR para as pessoas.
Maitê Oliveira Souza
Fundadora - Bella Vita Residencial Geriátrico
12/05/2021.